A história dos Wellerman.

Wellerman é uma música que viralisou recentemente nas redes sociais de jovem, conhecidas como TikTok. A música a viralisar é da banda Sea Shanty. Eu entrei em contato por conta de uma versão publicada pela banda Alestorm. Espera, versão? O termo não é paródia? Eu já explico.

Não sei se você leu, mas o penúltimo artigo publicado nesse blog foi sobre a banda Alestorm, uma banda com temática pirata e que brinca com várias ideias históricas. Agora, e essa música Wellerman? Bem, eu a priori gostei bastante da música, o que me instigou a ver o outras versões e dar uma pesquisada para entender melhor sobre o que se trata a letra da música, e os frutos dessa pesquisa nada aprofunda são esse artigo (E o episódio 22 do Cena a Cena, que é basicamente esse texto e está linkado abaixo). Então se prepare para ver aqui, um pouco sobre empresários britânicos, caça as baleias e uma parte da grande história da Nova Zelândia.

Seguindo a ordem que eu cheguei as informações:

A letra da música.

Cortando logo o barato da maioria, a letra da música descreve um navio baleeiro chamado “Billy o ‘Tea” e sua caça a baleiras, em provavelmente um dos piores trabalhos já inventados, retirar gordura de baleias mortas. A música descreve como a tripulação do navio espera que um “wellerman” (Que eu já comento um pouco melhor sobre esse termo) chegue e leve-lhes suprimentos de luxo, com o coro dizendo “logo pode o wellerman venha trazer-nos açúcar, chá e rum.” De acordo com a lista da música no site New Zealand Folk Song, “os trabalhadores dessas estações baleeiras (baleeiros costeiros) não recebiam salários, e sim eram pagos em depósitos roupas prontas, bebidas destiladas, açucar e tabaco.” O refrão continua com a tripulação cantando sua esperança de que “um dia, quando o Tonguin ‘terminar, iremos embora”. “Tonguing”, neste contexto, refere-se à prática de cortar tiras de gordura de baleia para transformá-las em óleo para venda. Os versos subsequentes detalham a determinação do capitão de trazer a baleia em questão, mesmo com o passar do tempo e vários barcos baleeiros se perdendo na luta. No último verso, o narrador descreve como o Billy o ‘Tea ainda está travado em uma luta contínua com a baleia, com o homem do navio fazendo uma “chamada regular” para encorajar o capitão e a tripulação.

As favelas:

Esse tipo de música é popularmente chamado de favela, e se você não viajou os 7 mares em busca de tesouros e riquezas, você provavelmente não sabe o que é isso, o que é perdoável, tendo em vista que estamos em 2021 e não em 1821. Mas para entender bem a relação que essa música tem com a história do nosso mundo, precisamos dar uma desviada e comentar sobre as favelas. Uma favela, canto ou canção do mar é uma música do gênero folclórico que costumava ser cantada em locais e em momentos de trabalho, geralmente quando esse trabalho necessita de realizar alguma ação ritimica, no nosso caso, os trabalhos necessários a bordo de navios baleiros. O ato de cantar as favelas surgiu antes do próprio termo, sendo datado do século XIX, o que torna a origem da palavra “favela” desconhecida, mas, uma das suas primeiras utilizações registradas foi por GE Clark na década de 1860 no seu texto Seven Years of a Sailor’s Life.

O estilo musical das favelas se tornou bem popular, inspirando muitas bandas e músicos a fazer músicas com essa temática ou estilo muito próprio, que evocam a cultura marítima, e um pouco sobre os trabalhos cotidianos do mar. Que é o caso dos Wellerman. Lá no inicio do texto, eu disse que tanto a versão do Alestorm quanto a do Sea Shanty são versões de outra música, e agora que sabemos o que são as favelas, podemos nos questionar: quem compôs a versão original de “Soon May the Wellerman Come”?

O escritor original:

Existem algumas possibilidades para aquele que supostamente compôs originalmente a música, segundo o Site New Zealand Folk Song o nome que chega mais próximo é D. H. Rogers, o rei dos piratas? Não, isso é outra história. Mas mesmo ele, ainda há duvidas. E para entender isso, temos de ir para a descoberta dessa música, que foi com um carinha Neozelandês chamado Niel Colquhoun, que provavelmente se pronuncia em Maori, uma das línguas oficiais da Nova Zelândia. Neil Colquhoun, encontrou “Soon May the Wellerman Come” por volta de 1966 de alguém chamado F. R. Woods. O Sr. Woods, por sua vez, que já tinha 80 anos, e disse a Colquhoun que tinha aprendido essa música e também aprendeu “John Smith A.B.” de seu tio. “John Smith AB” foi impresso no The Bulletin Sydney, uma revista semanal, em 1904, que foi assinada por D. H. Rogers (Talvez com ajuda de F. R. Woods?) É possível que D. H. Rogers fosse tio de F. R. Woods e que tenha composto “Soon may the Wellerman Come” e “John Smith A.B.”

Existem várias teorias de como Rogers Chegou neste texto, se Rogers tivesse nascido por volta de 1820, ele poderia ter sido um marinheiro adolescente ou baleeiro costeiro na Nova Zelândia no final da década de 1830. Depois se estabelecido na Austrália, onde teria escrito as favelas em seus últimos anos de vida conforme suas habilidades de composição se desenvolveram, e então os ensinou para seu sobrinho na casa dos 70-80 anos, em algum momento entre 1890 e 1904.

Mas também é possível que D. H. Rogers veio para Dunedin em 1870, quando seus pais migraram da Escócia. E lá trabalhou na marinha mercantil como contador para a Union Steam Ship Company dos 15 aos 35 anos. E estando nesse meio ele sem dúvida ouviu muitas histórias dos antigos marinheiros do Windjammer. Mais tarde, quando as dores de um corpo envelhecido chegaram, ele teria publicado os versos que ouviu dos marinheiros windjammer. Mas como Wellerman não mostra nenhum desses traços, podemos concluir que D H Rodgers não o compôs.

Talvez esteja faltando alguma informação crucial para sabermos o compositor dessa canção, mas por enquanto, temos essas teorias. Mas por fim…

Quem foram os Wellerman?

Na indústria baleeira na Nova Zelândia do século 19, os irmãos Weller possuíam navios que vendiam provisões para barcos baleeiros. Mas vamos ao início dessa jornada.

Joseph Weller, um rico empresário inglês, não estava bem, sofrendo de tuberculose, e foi aconselhado por seu médico a fazer uma viagem marítima. Ele ficou interessado em emigrar para a Austrália e chegou lá com sua esposa e filhos em 1830. Parte do amplo capital da família foi investido em terras e propriedades, mas seu principal interesse estava voltado para a caça às baleias e em 1831 ele comprou uma barca, a “Lucy Ann”. Depois de obter tripulação e provisões, dois de seus filhos, Joseph Jr e Edward, partiram para a Nova Zelândia em setembro de 1831. Eles atracaram em um promontório, que promontório é um nome complexo para uma ilha que em cima tem uma pianice. A’Te Umu Kuri’, que ficou conhecido como Wellers ‘Rock, e lá estabeleceram uma estação baleeira. Em 1834, o irmão Joseph Jr. morreu de Tuberculose, e como ainda não havia cemitério cristão ou ministro em Otago, seu jovem irmão Edward conservou seu cadáver em um ponche de rum (isso mesmo) e o despachou de volta para Sydney para o enterro. Assim, Edward Weller se tornou gerente do estabelecimento Otakou de Weller quando tinha apenas 20 anos de idade. E por alguns anos, o negócio floresceu, tornando-se um dos maiores postos baleeiros da costa da Nova Zelândia. Valeria um artigo inteiro sobre as histórias dos Weller nessa terra. Mas o importante é o trabalho que eles executavam como baleeiros.

Então essa é a história da música Wellerman, que passa desde como criamos música com favelas até uma parte da história da Nova Zelândia. Abaixo deixo a referência bibliográfica, com os link que explicam melhor os eventos citados.

Referência bibliográfica:

New Zealand Folk Song

Sobre as favelas

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